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Ao longo do mês de Maio/2004, vimos acompanhando uma série de quatro programas do "Fantástico" (Rede Globo), onde a Homeopatia foi tratada de forma superficial, preconceituosa, parcial e sensacionalista, sendo notória a tentativa das reportagens em desqualificá-la como especialidade médica, associando sua prática terapêutica à sugestão ou à crendice, de maneira a suscitar dúvidas no grande público quanto à sua eficácia, efetividade e eficiência
Privando-se da missão informativa, educativa e ética do ideal jornalístico, a edição do programa selecionou frases soltas de longas entrevistas de colegas homeopatas (nas quais buscaram explicar os pressupostos clínicos e científicos do modelo homeopático, distintos do paradigma convencional), incutindo nos ouvintes uma visão enviesada do conteúdo transmitido.
Observando esta iniciativa "anti-homeopatia" (que se utiliza, como propaganda de marketing, de um vídeo patrocinado por um grupo com interesses escusos, centrado no desafio milionário de um mágico cético e realizado pela BBC de Londres), que vem percorrendo vários países nos últimos anos, ficamos questionando o porquê de semelhante investida contra uma prática médica que se sustenta há mais de duzentos anos sem qualquer respaldo institucional, contribuindo com uma abordagem holística e individualizante no entender e tratar o adoecimento humano, favorecendo a relação médico-paciente, minimizando o sofrimento de milhares de pacientes portadores de inúmeras doenças crônicas, apresentando um mínimo de efeitos adversos e com baixo-custo.
Juntamente com a Acupuntura, a Homeopatia vem assumindo, nas últimas décadas, uma postura pioneira perante as demais "práticas não-convencionais em saúde", trabalhando para conquistar o seu espaço junto aos sistemas de saúde mundial e brasileiro (reconhecida como especialidade médica desde 1980; incorporada ao SUS desde 1985; reembolsada pelas empresas de grupo; oferecida como disciplina eletiva em faculdades de medicina; realizando trabalhos de pesquisa nas áreas básica e clínica; etc.), apesar das dificuldades que encontra em ser aceita e se fazer entender perante a classe médica desconhecedora dos seus princípios. Segundo pesquisa realizada pelo convênio Fiocruz-CFM (Perfil dos médicos no Brasil, 1996), a homeopatia, como principal especialidade de atuação, ocupa o 16° maior contingente de profissionais dentre 61 especialidades analisadas, contando com mais de 15.000 médicos praticantes.
Pesquisas sociais têm evidenciado o enorme interesse da população mundial por terapêuticas não-usuais, que mobiliza bilhões de dólares anualmente (N Eng J Med 1993, 328:246-52; JAMA 1998, 280:1569-75), em busca de uma melhor relação médico-paciente, através de tratamentos que englobem a pessoa em sua totalidade e sejam isentos dos efeitos adversos das drogas clássicas [JAMA 1998, 279:1548-53; J R Soc Health 2000, 120(1):42-6]. Como resultado da aprovação popular ao tratamento homeopático, observamos satisfeitos a reação do público ao programa, com centenas de telefonemas e e-mails indignados endereçados aos diversos conselhos regionais de medicina (CRMs) do país, solicitando uma ação destes órgãos em defesa da Homeopatia.
Com o aumento da procura da população por "práticas não-convencionais em saúde", a classe médica está começando a sentir a necessidade de suprir esta demanda, desviada em outros países para os terapeutas práticos não-médicos. Pesquisas mundiais vêm mostrando o interesse crescentes dos médicos [Arch Intern Med 1995, 155:2405-8; Arch Pediatr Adolesc Med 1998, 152(11):1059-64; Arch Intern Med 2002, 162(10):1176-81] e dos estudantes de medicina [Compl Ther Med 1993, 1(4):32-3; Forsch Komp 1997, 5:284-91; Acad Med 2000, 75:571] pelo aprendizado destas terapêuticas ortodoxas.
No aspecto econômico, trabalhos recentes vêm despertando insatisfação na indústria farmacêutica, evidenciando o baixo custo do medicamento e do tratamento homeopáticos, enfatizando a eficiência a efetividade do método perante os tratamentos convencionais e contabilizando as perdas financeiras que a mudança de conduta dos usuários pode infringir aos grandes laboratórios [Br Hom J 2000, 89(1):20-2; Br Hom J 2000, 89(1):23-6; Eur J Health Econ 2002, 3(1):83; Value Health 2002, 5(6):468; Homeopathy 2003, 92(3):135-9]. Dando preferência às chamadas fantásticas que o "desafio" de um mágico, oferecendo um milhão de dólares, traria à audiência e ao ibope do programa, o editor deixou de citar as demais evidências científicas existentes no campo das pesquisas básica e clínica (que ele teve acesso por diversas fontes), excluindo-as da edição do programa.
Ao final do texto, além da referência sobre as evidências sócio-econômicas anteriormente citadas,1 o leitor encontrará a citação de uma revisão sobre a pesquisa em homeopatia atual,2 onde discorremos sobre as iniciativas e as dificuldades existentes na área. Apesar do reduzido número de pesquisas em homeopatia, quando comparado à produção científica convencional, que dispõe de fontes de financiamento vultuosas, a quantidade e a qualidade dos trabalhos homeopáticos vem aumentando, despertando o interesse de pesquisadores isentos de preconceitos, que buscam respostas às evidências da clínica homeopática bi-secular.
Infelizmente, este tipo de matéria jornalística sensacionalista distorce o verdadeiro intuito da homeopatia brasileira, que se esforça por cumprir seu papel junto à sociedade e às demais especialidades médicas, através de uma terapêutica que visa ampliar a mais elevada e única missão do médico, que é tornar saudáveis as pessoas doentes, o que se chama curar.
Marcus Zulian Teixeira Médico homeopata, Pesquisador do Departamento de Clínica Médica do HCFMUSP,Membro da Comissão de Pesquisa da Associação Médica Homeopática Brasileira(AMHB).E-mail: marcus@homeozulian.med.br
Referências bibliográficas:
1) Teixeira MZ, Lin CA, Martins MA. O ensino de práticas não-convencionais em saúde nas faculdades de medicina: panorama mundial e perspectivas brasileiras. Revista Brasileira de Educação Médica, 2004; 28(1): 51-60. Disponível em:
http://www.homeozulian.med.br/2) Teixeira MZ. Panorama da pesquisa em homeopatia: iniciativas, dificuldades e propostas. Diagnóstico & Tratamento, 2004; 9(3). No prelo. Disponível em:
http://www.apm.org.br/revistas/default.aspFonte: Associação Médica Homeopata Brasileira
Imprimir Enviar por E-mailCOMENTÁRIOS:A Homeopatia vem sofrendo ataques com intuito de desprestigiá-la. Ataques de todos os tipos. O presente artigo é apenas um exemplo entre muitíssimos outros. É muito comum também um paciente sob tratamento halopático, sofrendo dos efeitos colaterais inerentes, resolver-se por tentar homeopatia. Entretanto, inseguro como está, acaba confessando ao médico alopata sua visita à homeopatia. É desaconselhado a prosseguir em homeopatia para não "interferir" no tratamento alopático. Inseguro como está, acaba acatando as recomendações alopáticas para poder ancorar-se num "porto seguro" e passa até a acreditar que os efeitos colaterais são um preço justo a se pagar em troca dos benefícios dos tratamentos alopáticos. Na mente do paciente acaba prevalescendo a idéia de que não vale a pena largar o certo pelo duvidoso. É claro, o certo seria a alopatia e o duvidoso a homeopatia. Este é um a argumento forte que vem prejudicando muito a Homeopatia... já que o paciente não tem meios de fazer seu próprio julgamento.
Médicos alopatas chegaram até mesmo a dizer em cadeias de TV, em horários de grande audiência feminina, que se um medicamento não tiver efeitos colaterais, ele não irá trazer também efeitos benéficos. E agora? Como explicar para a população que isso é simplesmente um absurdo? Afinal é uma "autoridade" afirmando...
Ramutis